quinta-feira, 14 de maio de 2009

Matemática Presente nos Últimos Dias

Dormir - mais.
Comer - menos.
Sentir o vento.
Ler - menos.
Abraçar - mais.
Dançar - mais.
Sonhar - menos.
Ih, correr contra o tempo.
Sair - mais.
Beijar - mais.
Sentir - mais.
Pensar - menos.
Ler - mais.
Dormir - menos.
Dormir - mais ou menos?
Ler ? depende do que.

Mais de Deus.
Mais de compreensão.
Menos de ilusão.
Por favor, mais atenção.

Cante mais pra mim.
Olhe mais pra mim.
Olhe mais por mim.
Venha me ninar. Faz-me dormir.


No mais e no menos, por favor, mova-se.

A Velha

A cena foi rica, muito rica. Tentarei descrevê-la:

Era uma tarde quente de verão. Uma família estava reunida e pareciam estar felizes. Os adultos riam e conversavam. Crianças corriam gritando em meio a suas brincadeiras de um lado para o outro. O cheiro de comida bem temperada invadia o ar. A família estava dividida em vários grupos, se agrupavam por afinidade de assuntos. De vez em quanto ouviasse uma crise de risos.
No quintal havia uma árvore enorme, percebiasse bem antiga. Suas raízes com metros de comprimento e seu largo tronco mostravam isso. Debaixo dela havia uma mesa de madeira bem grande com comida, refrigerantes, vinhos e flores. Nela estava uma velha. O que mais me chamou atenção foi a velha. De certa forma, todo aquele movimento girava em torno da velha, mas não parecia, ela estava ali só. Eu a observava. Percebi naquele momento como que a velha e a árvore eram parecidas: a árvore provavelmente concedera sombra a muitos, suas sementes deram existência a muitas outras árvores. A velha estava ali, ela e suas gerações. Ela começou a olhar para a mesa. Resolvi sentar-me ao lado dela.

- Está tudo bem?
- Sim está. Passe-me um pedaço daquele bolo ali, por favor.
- Aqui .
- Obrigada. Bem, eu vou morrer.
- Como?
- Eu vou morrer.
- Não diga isso.
- Sei que está chegando o momento. Vou morrer. Chame seu pai pra mim, ele e sua tia.

Eu sabia que ela não morreria ali, naquele momento. Mas sai correndo como se fosse. Chamava por meu pai, Davi, e pedi a ele que fosse até ela com a irmã. Diante de minha correria parece que todos ficaram menos eufóricos. Foram os dois lá conversar com ela. Ninguém se atreveu a se aproximar. Era uma cena bonita: aquela velha mulher, aquela árvore, o sol se pondo e seus dois filhos, velhos também, sentados no chão diante dela, ouvindo-a. A cena era bonita, triste também, sabiam que ela já estava por morrer. Todos conheciam a história da bisavó da velha, que morrera com cento e vinte poucos. Ela estava nos primeiros anos do cem. Alguns da família torciam para herdar dela esta parte referente aos fortes genes, eu sou uma.
Após aquela cena todos pareciam estar mais serenos, todos olhavam para a velha, gradativamente iam lá saber se ela queria algo. Eu me aproximei dela mais uma vez.

- Vai lá na Biblioteca e escolha um livro pra ti.
- Qualquer um vovó?
- Em outros tempos eu não deixaria você fazer isso - ela ri. Eu escolheria um pra você. Sabe como é, há livros e livros. Mas certas coisas não fazem tanto sentido a partir de um dado momento da vida.
- Depois faço isso. Conte-me algo de seus tempos de faculdade.

Nossa! Como ela estava velha! Ela ainda tinha todos os dentes, mas não tinham mais o mesmo brilho. A muita melanina de sua pela segurou as rugas por um tempo, este tempo acabou. Seu cabelo crespo, ainda bem volumoso, parecia clara de ovo mexido. Lembro-me de sua voz impotente, de como era perfeita para centrar a atenção dos alunos nas suas aulas, agora, tinha que chegar bem perto pra entender o que dizia.

- Estão todos bem, não estão?
- Sim vovó, estão.
- E verás os filhos de seus filhos e a paz sobre Israel.
- O que?
- E verás os filhos de seus filhos e a paz sobre Israel. Há paz em minha Israel não há?
- Sim, há.
- Sabe de uma coisa, em certo momento de minha juventude comecei a sonhar com o dia em que este tipo de comemoração faria sentido pra mim.

Eu vi lágrimas escorrendo daqueles olhos cansados, elas atravessaram as rugas com esforço e chegaram perto de sua boca. De repente percebi que toda a família estava envolta de nós. As crianças estavam juntas, todas juntas. Os adultos menos grudados uns nos outros. A velha sabia o nome de cada uma das crianças. A filha do filho de sua filha se aproximou dela. Era bem pequena. Carregava nos braços alguns botões de rosa champanhe enrolados em um laço azul celeste. Todos sabiam o quanto ela gostava dessas rosas. O buquê era quase maior que sua bisneta. Ela se aproximou bem da velha conforme lhe instruíram.

- Vovó Débula.
- Sim?
- Feliz dia das Mães.

Tchau

É mais ou menos assim: não há mais encanto por ti.
Que vá embora definitivamente!
Mas acredite te quero ver bem.
O que ainda existe é uma idéia,
Uma lembrança,
Uma pequena esperança,
De que sejas legal.
Mas mostrastes teu outro lado,
Lado este mais real.
Tentar te entender meu causou fadiga,
Dor de barriga,
Fiquei muito mal.
É, você não é tão legal.
Quanta indiferença!
Pode ser que tua cara me cause náuseas,
Vai embora!
É mais ou menos assim: não há mais encanto por ti.