sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Reencontro e Despedida

São 2:00 horas da manhã. Está frio. Muito frio.
Suas confusas construções sintáticas tornam tudo mais claro para mim, mostrando-me como tudo é complexo.
Seus braços deram a volta ao mundo naquele momento e você conseguiu tocar o sol. Depois tocou minhas mãos. A energia daquela estrela conduziu tudo em meu corpo ao equilíbrio. Neurônicos, pulsações, hormônios: tudo em perfeita sincronia, como num grande espetáculo de dança.

Os beijos correm, correm velozmente.
Centralizam-se em meus lábios, mas direcionam-se desesperados até minhas mãos e lá pulam.
Pulam e pulam.
Rapidamente vão para as bochechas e lá pulam.
Pulam e pulam.
Redirecionam-se para meus lábios. Quase cíclico. Tudo em perfeita sincronia, como num grande espetáculo de dança.
Os abraços são fortes.
Fortes muito fortes. Chego quase a esquecer-me de que está tão frio.
Os abraços são longos.
Longos e silenciosos. Um silêncio que grita tantas coisas.
Você fala.
Fala e fala.
Eu te escuto. Na verdade você tenta falar.
Ai começa novamente o movimento quase circular de seus beijos, que dança!

O movimento de suas palavras não tem tanta sincronia quanto o movimento de seus lábios. Em meio ao perdão e lágrimas o dono de toda plenitude vem nos visitar.
Ele escuta. Escuta tudo.
Ele também entra na dança e fica conosco ali por um tempo. Abençoa-nos e vai embora.

Os nossos corações tocam-se pela última vez e aconchegam-se.
Fim de dança.
Paz, muito paz!

São 5:20 da manhã.
Está frio, muito frio!
Os corações estão aquecidos.
Adeus!




segunda-feira, 11 de outubro de 2010

A cor da melhor parte




Boa parte de mim ainda beija o universo
respirando o teu sorriso.


Vitamina de morando e chocolate
agonizando de desejo no céu da boca.
Bate descompassado meu coração,
imitando um blues de Robert Johnson.


Atravesso minha língua no azul do céu,
acariciando sua boca forte cheiro de morango e chocolate.


Passei de fininho
como quem se esgueira
pela sombra.
Cicatrizes me lembram você...
Toda a minha cor,
toda essa fumaça,
esse licor de jenipapo,
sonhos arco-íris.


Copo de café amargo ao lado de Günter Grass,
um sorriso torto de canto de boca
e um silêncio profundo.



Adão

terça-feira, 25 de maio de 2010

Viver não dói

Definitivo, como tudo o que é simples.
Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.
Por que sofremos tanto por amor?
O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso, e que nos fez companhia por um tempo razoável, um tempo feliz.
Sofremos por quê?
Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter tido junto e não tivemos, por todos os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, e não compartilhamos.
Por todos os beijos cancelados, pela eternidade.
Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um amigo, para nadar, para namorar.
Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela, nossas mais profundas angústias se ela estivesse interessada em nos compreender.
Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada.
Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.
Como aliviar a dor do que não foi vivido?
A resposta é simples como um verso: se iludindo menos e vivendo mais!!!
A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade.
A dor é inevitável.
O sofrimento é opcional.

(Carlos Drummond de Andrade)

sábado, 17 de abril de 2010

Vestidinho Cinza

Passei e vi. Identifiquei-me. Não poderia ter deixado de sentir.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Horário de Verão

Queria entender a lógica dos passarinhos,
Não consigo distinguir se se divertem ou temem o perigo.
As águas, em meu lombo, tem outro impacto.
As águas, em seus lombos, podem ser um fardo;
Ou não.

Queria entender a lógica dos passarinhos,
Eles estão em grupo agora.
Não entendo se brincam ou se se desesperam
Na procura de um lugar seguro.


De igual modo queria eu entender a lógica deste passarinho.
Acho que ele tenta se livrar de pedacinhos de casca presos em suas asas,
Nascer de fato.
E nesta caminhada,
Se molhar e dançar na chuva.
E nesta caminhada,
Lembrar-se das prisões de hoje
e das de outrora.

Os passarinhos se foram.